2011/10/31

"(...) Entretanto agora a visão de cada homem o alegrava e comovia, amava as crianças que brincavam e iam à escola, e amava a gente velha que sentava em bancos diante de suas casinhas, aquecendo ao sol as mãos enrugadas. Quando via um rapaz perseguir uma menina com o olhar apaixonado; ou um operário num dia de descanso, que, saudoso do lar, carregava nos braços suas crianças; ou um médico fino e inteligente, que silencioso e apressado conduzia seu carro e pensava em seus doentes; ou também uma prostituta pobre e malvestida, que à noite aguardava sob um poste de luz, e mesmo a ele, ao renegado, oferecia seu amor, então todos esses eram seus irmãos e irmãs, e cada um trazia em si a lembrança de uma mãe amada e de um passado melhor ou a marca familiar de uma determinação mais bela e mais nobre e cada um lhe era simpático e digno e dava-lhe motivo para reflexões e ninguém era pior do que ele próprio se sentia."

Augusto, Hermann Hesse

2011/10/07

"A Verdade e a Justiça nada sofrem por não serem praticadas, quem sofre são os que delas se afastam. A luz nada sofre por alguém se afastar da sua presença, simplesmente os que tal fazem ficam às escuras. Nada sofre nosso Deus Serápis e o génio divino encarnado na sua Estátua Sagrada: este fica, na realidade, relevado e finalmente livre do serviço que prestou durante centenas de anos e pelo qual devemos sentir uma profunda gratidão. Simplesmente sua luz de bondade e harmonia não mais poderá ser projetada neste mundo... e se esta é a verdade do génio que agora está libertado, a verdade do Deus Serápis é que Ele é a Luz do Mundo e esta não cessará até que o mundo inteiro seja consumido pelas chamas do final de um ciclo; e nem sequer depois, pois para lá das gradações da Luz e sombras na pirâmide da Natureza, para além do relativo, Luz Absoluta é Obscuridade Absoluta. Esta luz arde no coração humano e não cessará enquanto o homem, em qualquer tempo e lugar, esteja verdadeiramente em marcha para Deus, qualquer que seja o nome que se lhe dê ou a forma em que se o perceba."


Viagem iniciática de Hipátia, José Carlos Fernández
Cap. VIII, Destruição do Templo de Serápis

2011/08/23

"Na Iniciação as verdades vivem-se; no plano filosófico amam-se, compreendem-se e chegam a ser intuídas; na religião, através dos símbolos e do véu da alegoria, as verdades sonham-se."

Viagem iniciática de Hipátia, José Carlos Fernández
Cap. V, Hipátia, Discípula de Plutarco em Atenas

2011/08/16

Nalgum lugar

Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
De qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
Embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
Me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(Tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

Ou se quiseres me ver fechado, eu e
Minha vida nos fecharemos belamente, de repente
Assim como o coração desta flor imagina
A neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

Nada que eu possa perceber neste universo iguala
O poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
Compele-me com a cor de seus continentes,
Restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(Não sei dizer o que há em ti que fecha
E abre; só uma parte de mim compreende que a
Voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

Edward Estlin Cummings 
(traduzido por Augusto de Campos)

2011/08/08

"O que tem a ver a "verdadeira sabedoria da alma" - disse tristemente o sacerdote - com professar a religião cristã, ou a hebraica ou ser fiel dos mistérios de Osíris ou de Cibeles? Qualquer destas religiões ou dos ensinamentos dos filósofos, na sua quinta-essência, é sabedoria da alma. Se falamos de "verdadeira sabedoria da alma" temos que nos referir à Religião da Sabedoria, ou seja, aquela que rende culto à Luz espiritual na alma humana, aquela que ilumina a Alma de todas as religiões, desde o núcleo interno das Escolas de Mistérios. Esta Religião da Sabedoria é o pacto entre os Deuses e a Humanidade, o verdadeiro Arco-Íris que estabelece a ponte entre a Terra e o Céu; e os seus fiéis, todos os sábios e santos "que no mundo foram", em qualquer das religiões passadas e presentes. Esta é a verdadeira Igreja ou Congregação, a verdadeira "Fraternidade do Espaço" e da qual todas as comunidades de crentes de qualquer credo não são mais do que sombras disformes."

Viagem iniciática de Hipátia, José Carlos Fernández
Cap. III, Iniciação de Hipátia no Templo de Philae

2011/07/31

Eu menino

Sempre sonhei que um dia encontraria meu Destino, mas esse menino me vive fugindo entre os dedos como se minha existência fosse para ele uma simples brincadeira. Talvez queira me fazer entender algo... Talvez ele tenha algo a me dizer... às vezes ouço em minha mente um sussurro que não hesita ao afirmar que nada nesta vida tem valor, tudo é efêmero... que nada nesta vida é real, tudo é provisório... que nada nesta vida tem amor, tudo é amor.

Ainda não sei, mas queria ao menos uma vez encontrá-lo e perguntar então, cara a cara, para onde os sonhos se vão... será que há um lugar onde tudo se encontra?.. E se, um dia, deixar de sonhar para onde irá meu coração, perderá a direção ou simplesmente não terá condição de continuar a bater? Alguém sabe dizer?

Não?! Talvez o Destino... mas não encontro esse menino.

Ouvi dizer que ele estava se escondendo em um lugar que só me é frio: a minha própria sombra. Aqui, sempre comigo, e que quando me permito posso ouvi-lo sussurrar um caminho a seguir. Se assim for, quanta ousadia!, estar à mostra assim, em plena luz do dia. Isso seria bem a cara dele mesmo, mas não sei, ainda não o consigo enxergar.

Ele, eu sei, me observa... a cada momento, cada passo, cada dia que se passa; enxerga cada dor em meu coração e cada dúvida em minha mente. Será que se sente contente? Ou será que se fere com as minhas feridas? Ou será ainda que é capaz de cair doente como qualquer outro menino que se arrisca por uma aventura, um momento de alegria qualquer?

Arriscar-se-ia em perder o poder de ser quem é simplesmente para acompanhar-me ou sou ainda muito pouco? Se é que me sente, compreende, por que não me explica como seguir? Por que não diz simplesmente o que preciso fazer?

“Ele diz”, dizem-me... O menino, Destino – dizem-me – fala-me sempre através dos sinais que coloca em meu caminho... e nunca se afasta. Nos momentos em que perco a consciência de quem sou ele ganha a possibilidade de viajar distante, mesmo que por instantes, pode se libertar e se quisesse poderia até não voltar... mas na verdade, ele nunca vai aonde quer, tão preocupado que é, vai somente me buscar, me trazer de volta ao meu lugar.

É uma criança diferente, esse tal Destino, não brinca, só trabalha... e eu, que pensava ser adulto, agora busco compreender que há uma criança tentando alcançar meu peito, tentando me ensinar... realmente, devo estar muito perdido. Ou o mundo deve estar muito errado do jeito que está... uma criança a me ensinar, a me seguir, a me falar... e eu sem ao menos conseguir ouvi-la.

O mundo deve estar muito errado... Nada deve estar no lugar... Muito menos eu... que nem ao menos sei quem sou. Mas quem seria eu se dissesse se sim ou se não? Quem seria eu se conseguisse me decidir entre um lado ou outro? Quem seria eu se soubesse escolher o caminho a seguir? Quem seria eu se soubesse quando estou certo ou errado? Talvez – e isso é algo que só me ocorre agora – me tornasse meu próprio Destino. Eu, que sonho!, seria ainda menino, com toda a força no coração e toda a certeza que a inocência permite.

Seria eu Destino, seria eu menino novamente a me dizer: renasce, cresce, sonha, vive. A cada dia.

2011/07/28

"(...) Negras nuvens avançam desde o horizonte, mas ainda não chegou a hora da tempestade... E quando esta chegar nada temeremos, mas na violência dos acontecimentos trataremos de fazer o melhor... e, quem sabe, talvez a nossa alma sorria no meio de um mar de dificuldades e angústias, como faz um valente e experiente capitão desafiando a tempestade."

Viagem iniciática de Hipátia, José Carlos Fernández
Cap. I, A chamada do destino

2011/07/26

Concreto

Ouço o riso dos rios distantes, a água que meu sentido da inércia iminente me impede de desejar, cristalina como minha própria alma deveria ser, pura como minhas próprias vontades, fresca como minha própria mente e inalcançável como meus próprios sonhos, dos quais faz parte e dos quais é, se não o mais belo, o mais real.

À minha volta tudo é verde, tudo é escuro e sem brilho, e o que um dia não foi, torna-se agora sufocante.

Tudo muda ao meu redor, tudo cresce e, apesar do meu poder de transmutação, não me deixo renovar, apenas escondo-me atrás das estranhas máscaras desenhadas pelo mundo e trato de lucrar com o que eu mesmo não sei calcular o valor: vendo os peixes de um rio onde eu mesmo não ousei nadar, os quais eu mesmo não consigo alcançar e tampouco comer.

E ainda assim ouço o rio a sorrir e os ouço juntos levados pela fraca correnteza da vida que pode ser vencida facilmente por eles ao que empreguem um pouco de força em sentido contrário ao das águas. Por isso se põe a sorrir, por isso se põe a brincar, por isso se põe a VIVER! Como eu quis... como eu não vivi... e, no fundo de meu mais puro sentimento de egoísmo, invejo-os e os odeio mais que a mim mesmo por sua simples felicidade, por terem de forma tão fácil a água que os envolve e os carrega enquanto quiserem ser carregados mas que não os impede de voltar ou de seguir em outra direção se já não quiserem mais obedecer ao tempo, enquanto eu sigo apenas com essa água salgada ao meu redor que parece querer me afogar... eu, que um dia sonhei poder ser nadador, nado agora em minha própria dor.

Olho ao longe o infinito tão doce que reflete, pela luz, no verde ao meu redor, o que pouco posso ver e me causa medo... medo do crescer, medo do querer ver de onde vem esta luz realmente se o que vejo é apenas um reflexo do real, escondo-me ao submergir de idéias e aceito outras que me são impostas pela natural necessidade de me enganar.

Deste mar escorrido de meus olhos forma-se um novo mundo, com todo um ecossistema interdependente, do qual, apesar de ser eu Deus, vivo a ser o ser mais dependente e frágil.

O criador, a própria razão de existir de todos os outros: vontade, desespero, dores, desilusões, medos, frustrações, desejos e sonhos, todos os que passaram a existir por este triste ecossistema de melancolia e luta eterna pela sobrevivência que talvez não valha a pena.

Aquele que precisa ouvir de sua própria criação que é importante para que não se deixe afogar.

Aquele que ouve do universo os mais belos desejos, os mais concretos sonhos. Todas as vontades realizadas, tudo o que não era e se tornou, todo o impossível acontecido, tudo que foi ilusão e agora é real. E só consegue pensar: o que fiz de concreto nesta vida?

E eu, o que tenho de concreto nesta vida?!

Nada, apenas este chão que me prende na “estaticidade” de me ser. De onde não posso fugir pela natureza. Já que minhas raízes aqui estão, meu princípio e meu fim também. Este é o meu lugar e nunca deixarei de ser verde e nem me tornarei tão alto que possa vencer os demais que me sufocam para ver o verdadeiro horizonte. Olhar ao real sol e não apenas à luz que dele emana, à vida que a partir dele se faz viver.

Não deixarei o passado ser esquecido por ser tão recente, nem buscarei mais nobre futuro, vivo em uma eterna crise existencial, por ora sou a certeza a qual me refugio e da qual dúvidas podem haver, sou pedra, sou planta, sou animal, sou homem, sou mundo, sou sol. Sou meu próprio Deus, sou eu próprio, por maior insignificância que possa haver em dizer isto com orgulho: sou a distância entre o que fui e o que serei.

Sou o que deve ser mudado, moldado, levado em outra direção. Preciso ser carregado, pois por mim, de mim, não abandonarei minha terra que sempre supriu minhas necessidades, que me deu alimentos de onde veio a energia para sobreviver, apesar de toda ela ter saído de mim e ter sido criada pela minha própria fantasiosa necessidade de não me deixar só.

Apesar do meu desejo, meu mar salgado, profundo, não se deixa tocar em momento algum pela doce correnteza do rio que ouço distante e todo o verde partido de mim apenas me ajuda a sufocar e a revelar quem sou realmente, mesmo que tema me viver, temo e teimo mais em ser o que mais odeio e não mudar por ser tolo e fraco demais.

Não cresço, não crescerei, passe inverno, primavera, verão, outono, outro ano; passe o que passar, passe o mundo que gira sem parar, passe o sol trezentas e sessenta e cinco vezes sobre minha cabeça e eu ainda não terei me erguido para olhá-lo nos olhos.

Apenas olharei ao meu redor todos os ex-verdes amadurecidos, todos os ex-medos superados, todos os ex-sonhos realizados, todos...

Todos têm algo de novo a contar, todos têm o que ensinar e a quem ensinar...

Ensinar realmente e não apenas mostrar como se pode, facilmente, enganar a si mesmo de que o peixe que vende é o mais valioso entre todos, mais saboroso, mais belo, mais ágil; mesmo que nunca o tenha visto, mesmo que nunca tenha provado de sua carne o sabor, mesmo que nunca tenha nadado ao seu lado, mesmo que nunca tenha tido contato com a água doce que o faz rir.

Todos cresceram e eu, apenas com que há de abstrato, porque, de concreto, na minha vida, só tenho a certeza de que não conquistei nada.

2011/07/24

“O milagre é que o universo tenha criado uma parte de si mesmo para observar o resto, e que essa parte, ao observar-se a si mesma, tenha descoberto o resto do universo em suas próprias realidades naturais internas.”

John C. Lilly

2011/07/17

"_ A fé exclui a liberdade.
"_ Mas, a fé deve surgir da confirmação dos fatos, como mensageira e áugure de outros mais elevados resultantes dos primeiros, e não como uma força oposta a tudo o que é razoável, contrária a qualquer progresso, inimiga dos que sentem, dos que pensam e dos que amam. Se a doutrina cristã é forte, porque é que, em lugar de matar e perseguir todo aquele que não a professe, não o rebate e humilha com o peso da verdade, através da razão, da pureza e amor dos seus ministros? Arrancai já todos esses dogmas de afirmações ridículas que Nosso Senhor jamais ensinou, e colaborai com a filosofia ou como lhe quiserdes chamar, na busca da realização, para além das formas em dissonância! Meu irmão, o mundo está enjoado do "faz isto e não olhes para o que eu faço". Menos conselhos e mais exemplos!"

O Alquimista, Jorge Angel Livraga
Cap. IV, A coroa de raios

2011/07/14

"_ Posso saber por que estou acorrentado?
"_ Estranho ser é o homem! Mal lhe acorrentam os pulsos ou o retêm um par de dias, logo clama desesperado por liberdade, mas sente prazer em auto-acorrentar-se e em auto-encarcerar-se nas suas paixões, vícios e ignorâncias. O homem transformou o seu corpo num cárcere e, apesar dos sofrimentos, não deseja abandoná-lo..."

O Alquimista, Jorge Angel Livraga
Cap. II, As ruínas

2011/07/09

"Quando o mundo cede ao que está em volta, quando as estruturas de uma civilização vacilam, é bom lembrar aquele que, na história, não se dobrou e sim, ao contrário, adquiriu mais coragem, reuniu os separados, pacificou sem ferir. É bom lembrar que o gênio da criação também fez o melhor que pôde numa história destinada à destruição."

Remerciement à Mozart, Albert Camus
L'Express, 1956

2011/07/06

"Salieri produzia música, em Mozart ela morava."

Mozart, Christian Jacq
Vol. IV: O Amado de Ísis - Cap. 51

2011/06/25

Luna

En la simples totalidad de la inercia,
Una lágrima, como único movimiento,
Llena a los ojos cansados
En lo olvidar de pensamientos

Y cuándo pienso que he olvido
Es que observo nuevamente la Luna

Y cuándo pienso que la olvidé
Es que la Tierra insiste en girar
Es cuándo pierdo lo que pienso tener
Es cuándo no la encontró dónde debería estar

Así, temo que no regreses pero continúo a esperar
Y si después de mucho tempo yo la quiero olvidar
Me pierdo nuevamente a sentir las luces
Que por instantes me forcé a no observar

Miro entonces el horizonte y encontró mi lugar
Olvido ahora es el miedo, aguardo sin secreto mi Luna…

2011/06/14

Culpa

Olhos. Encaram-me nos olhos como se a culpa fosse minha, como se eu não fosse uma das vítimas. Por que? Por que não podem acreditar nas palavras que saem de minha boca? “Não fui eu”, insisto em dizer. Mas por que me olham assim?

Ela me encara, com aqueles grandes olhos azuis que me fizeram apaixonar, ainda desacreditada. Eu me aproximo, tento explicar, mas ela não me ouve, não se move, permanece estática encarando-me.

Aproximo-me mais, toco em sua mão. Nunca havia estado ao lado de um corpo tão frio. Gritos. Ela está morta, como não pude perceber? Abraço-a e a levanto, caímos juntos, ainda abraçados. Ela está morta. Lágrimas escorrem por meus olhos. Gritos.

Grito eu também junto à turba em minha volta. “Por quê?!!!!!!!!!”. A dor é horrível, por que, Deus? Por que ela teve que fazer isso comigo? Por que minhas maiores alegrias são arrancadas de meus braços sem ao menos um aviso?

Abraço-a, o sol desaparece em meio às nuvens. O dia se torna escuro, assim como minha alma se torna escura. Sinto ódio de todos ao meu redor que apontam em minha direção e gritam. Por favor, Deus, faça-os parar, quem sou eu para combater? Todos os seres do universo estão contra mim, não acreditam em minhas palavras.

Sou culpado por um crime não cometido por mim. Como pode um suicídio ter culpado? Como posso eu ser culpado pelo triste fim de minha amada?

Não chores, minha flor, que ainda estamos juntos, sei que meu corpo agoniza junto à lembrança de teu ser. Onde eu estava nas últimas horas que não a vi perder-se?

Não, perdeu-se há muito, apenas não se havia entregado.

A culpa não pode ser minha. Mas eles apontam em minha direção, como poderei viver agora com esse peso em minha vida, com mais este peso, a simples certeza de que por mim o seu fim se fez. Quem sou eu para tanto? Eu não a mereço.

Por que tanto apontam para mim? Gritos. Onde eu estava nas últimas horas? O que aconteceu? Por que não lembro do que fiz? A culpa. A dor. As lágrimas caem e o sol se mostra no céu novamente.

“Por que, Deus?”. Pergunto novamente, “por que ela e não eu?”. As lágrimas me impedem de ver o mundo como foi, eu apenas vejo sangue.

O sangue cai de meus olhos, não... o sangue pende de minhas mãos.

Encontro a culpa, torno-me então o assassino mais frio e o ser mais menosprezado por si mesmo na face da terra. Assassino de seu maior amor, que por tanto amor, não pode superar a dor de não ser feliz, e assim se desfaz do mundo e esquece o que mais lhe importa. Vive dia a dia a matar-se aos poucos, começando pelo mais doloroso para esquecer a dor: o coração.

2011/05/24

Novamente...

Bom... volto...
O retorno do tempo e da necessidade de expressão...

P'ra mim e por mim; p'ra quem mais estiver do outro lado e quiser novamente se perder nas ilusões e sonhos, fantasias reais de uma vida pouco vivida e muito sentida.

Com o pouco sentido de sempre, que se aprofunda cada vez mais no ser e no não-ser de mim mesmo e que a mim mesmo pertence; como já sabem, nada mudou e tudo está diferente, portanto o tempo, meu aliado, se faz presente e também ausente como uma "ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha". E Clarisse ainda está sentada no banheiro, saiu alguns dias, mas volta sempre para seu conforto, seu descanso.

E agora a vida... volta a ter um escape, um lugar de repouso... um sono que há muito demora a chegar e sempre (!) silencia na vontade de não ir.