2017/02/25

“O que torna possível converter a abordagem sistêmica numa ciência é a descoberta de que há conhecimento aproximado. (…) Isso pode ser facilmente ilustrado com um experimento simples que é, com frequência, realizado em cursos elementares de física. A professora deixa cair um objeto a partir de uma certa altura, e mostra a seus alunos, com uma fórmula simples de física newtoniana, como calcular o tempo que demora para o objeto alcançar o chão. Como acontece com a maior parte da física newtoniana, esse cálculo desprezará a resistência do ar e, portanto, não será completamente preciso. Na verdade, se o objeto que se deixou cair tivesse sido uma pena de pássaro, o experimento não funcionaria, em absoluto.

“A professora pode estar satisfeita com essa “primeira aproximação”, ou pode querer dar um passo adiante e levar em consideração a resistência do ar, acrescentado à fórmula um termo simples. O resultado – a segunda aproximação – será mais preciso, mas ainda não o será completamente, pois a resistência do ar depende da temperatura e da pressão do ar. Se a professora for muito rigorosa, poderá deduzir uma fórmula muito mais complicada como uma terceira aproximação, que levaria em consideração essas variáveis.

“No entanto, a resistência do ar depende não apenas da temperatura e da pressão do ar, mas também da convecção do ar – isto é, da circulação em grande escala de partículas de ar pelo recinto. Os alunos podem observar que essa convecção de ar não é causada apenas por uma janela aberta, mas pelos seus próprios padrões de respiração; e, a essa altura, a professora provavelmente interromperá esse processo de melhorar as aproximações em passos sucessivos. “Este exemplo simples mostra que a queda de um objeto está ligada, de múltiplas maneiras, com seu meio ambiente – e, em última análise, com o restante do universo. Independentemente de quantas conexões levamos em conta na nossa descrição científica de um fenômeno, seremos sempre forçados a deixar outras de fora. Portanto, os cientistas nunca podem lidar com a verdade, no sentido de uma correspondência precisa entre a descrição e o fenômeno descrito. Na ciência, sempre lidamos com descrições limitadas e aproximadas da realidade. (...)”

 A teia da vida, Fritjof Capra 
Cap. III, Teorias Sistêmicas

2017/02/15

"(...) aqueles peixes bonitos que vês dentro dos aquários pequenos, sabes que têm uma memória de uns segundos, três segundos, assim. é por isso que não ficam loucos dentro daqueles aquários sem espaço, porque a cada três segundos estão como num lugar que nunca viram e podem explorar. devíamos ser assim, a cada três segundos ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, porque a mais ridícula coisa na primeira imagem seria uma explosão fulgurante da percepção de estar vivo."

 A máquina de fazer espanhóis, Valter Hugo Mãe 
Cap. XXI, Precisava deste resto de solidão para aprender sobre o resto de companhia

2017/02/11

"(...) começaram os outros a benzer-se e a rezar e levaram-me para uma cadeira onde me estenderam o crucifixo que tínhamos sobre a cómoda, e esperaram que deus, ou o peter pan, entrasse na minha vida com explicações perfeitas sobre o que sucedera. esperaram que a vida se prezasse ainda, feita de dor e aprendizagem, feita de dor e esperança, feita de dor e coragem, feita de dor e cidadania, feita de dor e futuro, feita de dor e deus e salazar."

 A máquina de fazer espanhóis, Valter Hugo Mãe
Cap. VII, Herdar Portugal

2017/02/08

"- Aprendi também - disse Breuer -, ou talvez seja a mesma coisa, não estou certo..., que temos de viver como se fôssemos livres. Ainda que não possamos escapar do destino, temos que enfrentá-lo de cabeça erguida... temos que desejar que nosso destino aconteça. Temos que amar nosso destino. (...)" 

Quando Nietzsche chorou, Irvin D. Yalom