2020/04/16

Casa vazia

Chove.
Ainda que não veja o céu,
chove. A vida que se infiltra em todos os lugares
fragiliza-me os alicerces, irrompe concreto,
separa cimento-areia-brita, estremece meus eus
abalando ais como se já não fossem mais que ferrugem.

Certezas que tive precisam de outra demão,
cor por cor coberta para se manter.
Paredes por vezes despedaçadas em lascas
delicadas e sutis, se esvaem que só pó
e onde antes havia barreiras se faz amplo.

A luz não entra,
o claro é fruto da imaginação,
sonho, desejo, perdão-mistura-de-tudo,
pois chove. Ainda que não veja o céu
consigo ouvir seus lamentos,
sentir seu esforço em me penetrar
e me preencher.

Como me mantive de pé por tanto tempo
se oco, o que reside além de mim?

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