2011/07/14

"_ Posso saber por que estou acorrentado?
"_ Estranho ser é o homem! Mal lhe acorrentam os pulsos ou o retêm um par de dias, logo clama desesperado por liberdade, mas sente prazer em auto-acorrentar-se e em auto-encarcerar-se nas suas paixões, vícios e ignorâncias. O homem transformou o seu corpo num cárcere e, apesar dos sofrimentos, não deseja abandoná-lo..."

O Alquimista, Jorge Angel Livraga
Cap. II, As ruínas

2011/07/09

"Quando o mundo cede ao que está em volta, quando as estruturas de uma civilização vacilam, é bom lembrar aquele que, na história, não se dobrou e sim, ao contrário, adquiriu mais coragem, reuniu os separados, pacificou sem ferir. É bom lembrar que o gênio da criação também fez o melhor que pôde numa história destinada à destruição."

Remerciement à Mozart, Albert Camus
L'Express, 1956

2011/07/06

"Salieri produzia música, em Mozart ela morava."

Mozart, Christian Jacq
Vol. IV: O Amado de Ísis - Cap. 51

2011/06/25

Luna

En la simples totalidad de la inercia,
Una lágrima, como único movimiento,
Llena a los ojos cansados
En lo olvidar de pensamientos

Y cuándo pienso que he olvido
Es que observo nuevamente la Luna

Y cuándo pienso que la olvidé
Es que la Tierra insiste en girar
Es cuándo pierdo lo que pienso tener
Es cuándo no la encontró dónde debería estar

Así, temo que no regreses pero continúo a esperar
Y si después de mucho tempo yo la quiero olvidar
Me pierdo nuevamente a sentir las luces
Que por instantes me forcé a no observar

Miro entonces el horizonte y encontró mi lugar
Olvido ahora es el miedo, aguardo sin secreto mi Luna…

2011/06/14

Culpa

Olhos. Encaram-me nos olhos como se a culpa fosse minha, como se eu não fosse uma das vítimas. Por que? Por que não podem acreditar nas palavras que saem de minha boca? “Não fui eu”, insisto em dizer. Mas por que me olham assim?

Ela me encara, com aqueles grandes olhos azuis que me fizeram apaixonar, ainda desacreditada. Eu me aproximo, tento explicar, mas ela não me ouve, não se move, permanece estática encarando-me.

Aproximo-me mais, toco em sua mão. Nunca havia estado ao lado de um corpo tão frio. Gritos. Ela está morta, como não pude perceber? Abraço-a e a levanto, caímos juntos, ainda abraçados. Ela está morta. Lágrimas escorrem por meus olhos. Gritos.

Grito eu também junto à turba em minha volta. “Por quê?!!!!!!!!!”. A dor é horrível, por que, Deus? Por que ela teve que fazer isso comigo? Por que minhas maiores alegrias são arrancadas de meus braços sem ao menos um aviso?

Abraço-a, o sol desaparece em meio às nuvens. O dia se torna escuro, assim como minha alma se torna escura. Sinto ódio de todos ao meu redor que apontam em minha direção e gritam. Por favor, Deus, faça-os parar, quem sou eu para combater? Todos os seres do universo estão contra mim, não acreditam em minhas palavras.

Sou culpado por um crime não cometido por mim. Como pode um suicídio ter culpado? Como posso eu ser culpado pelo triste fim de minha amada?

Não chores, minha flor, que ainda estamos juntos, sei que meu corpo agoniza junto à lembrança de teu ser. Onde eu estava nas últimas horas que não a vi perder-se?

Não, perdeu-se há muito, apenas não se havia entregado.

A culpa não pode ser minha. Mas eles apontam em minha direção, como poderei viver agora com esse peso em minha vida, com mais este peso, a simples certeza de que por mim o seu fim se fez. Quem sou eu para tanto? Eu não a mereço.

Por que tanto apontam para mim? Gritos. Onde eu estava nas últimas horas? O que aconteceu? Por que não lembro do que fiz? A culpa. A dor. As lágrimas caem e o sol se mostra no céu novamente.

“Por que, Deus?”. Pergunto novamente, “por que ela e não eu?”. As lágrimas me impedem de ver o mundo como foi, eu apenas vejo sangue.

O sangue cai de meus olhos, não... o sangue pende de minhas mãos.

Encontro a culpa, torno-me então o assassino mais frio e o ser mais menosprezado por si mesmo na face da terra. Assassino de seu maior amor, que por tanto amor, não pode superar a dor de não ser feliz, e assim se desfaz do mundo e esquece o que mais lhe importa. Vive dia a dia a matar-se aos poucos, começando pelo mais doloroso para esquecer a dor: o coração.

2011/05/24

Novamente...

Bom... volto...
O retorno do tempo e da necessidade de expressão...

P'ra mim e por mim; p'ra quem mais estiver do outro lado e quiser novamente se perder nas ilusões e sonhos, fantasias reais de uma vida pouco vivida e muito sentida.

Com o pouco sentido de sempre, que se aprofunda cada vez mais no ser e no não-ser de mim mesmo e que a mim mesmo pertence; como já sabem, nada mudou e tudo está diferente, portanto o tempo, meu aliado, se faz presente e também ausente como uma "ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha". E Clarisse ainda está sentada no banheiro, saiu alguns dias, mas volta sempre para seu conforto, seu descanso.

E agora a vida... volta a ter um escape, um lugar de repouso... um sono que há muito demora a chegar e sempre (!) silencia na vontade de não ir.

2009/03/18

"Tu ficas indignado e te queixas! Não compreendes que todo o mal provém não do que te acontece, mas sim de tua indignação e de tuas reclamações? Do meu ponto de vista, não existe miséria para um homem a não ser a de achar que algo que faz parte da natureza das coisas não está correto. Nem a mim mesmo suportarei quando, um dia, começar a considerar algo insuportável. Minha saúde não é boa; faz parte do meu destino. Meus criados estão na cama? Minhas rendas estão em baixa? Minha casa está rachando? Perdas, ferimentos, cansaços, inquietudes me assolam? São coisas que acontecem. Indo além, elas devem acontecer, pois não são obra do acaso, estavam determinadas.

"Acredita, o que agora te digo faz parte dos meus mais íntimos sentimentos. Sempre que a vida me parece cruel e adversa, imponho a seguinte regra a ser seguida: não obedecer aos deuses, mas segui-los. Faço isso porque quero, não por obrigação. Nada do que vier a me acontecer me abaterá e me deixará com a aparência alterada. Aceitarei de boa vontade aquilo que me cabe, pois tudo o que provoca nossos sofrimentos e nossos medos é da lei da vida. E eu, meu caro Lucílio, não espero que assim seja diferente e que possa estar livre disso.

"Tua bexiga te incomoda? Chegaram más notícias pelo correio? Há perdas incessantes? Indo mais longe, temes por tua vida? Pensa bem, não sabias que desejavas tudo isso ao querer envelhecer? Tudo isso faz parte do percurso de uma longa vida, como a poeira, a lama e a chuva durante uma viagem.

" "Mas eu gostaria viver livre de todas essas incomodações", dizes. Afirmação tão insensata não é digna de um homem. Aceita como achares melhor esse meu conselho, se não for pelo que nele há de bom, pelo menos em razão de minha boa vontade: "Não queiram os deuses e deusas que a fortuna te prenda em seus prazeres".

" "Interroga a ti mesmo, pressupondo que um deus te permita escolher se preferes viver em um mercado ou em um acampamento. Viver, Lucílio, é ser soldado. É por isso que aqueles que se arriscam em missões mais perigosas, através de penhascos e desfiladeiros, são os mais valentes, a elite da tropa. Já aqueles que se ocupam apenas com leves tarefas, enquanto os outros dão o máximo de si, esses não passam de mocinhos delicados, no abrigo, mas sem honras. Passa bem!" "

Aprendendo a Viver, Sêneca
XCVI - Das contrariedades

2009/01/23

Resposta

Ela disse simplesmente que sim, virou as costas e não olhou para trás.

Como eu gostaria de ter sua força de vontade e sua certeza das coisas desta vida, deste mundo... questionamentos nunca deixarão de existir para quem quer que seja, mas podemos encontrar as respostas de alguns e não mais ter que lutar contra eles.

Mas como ter certeza de sua resposta, como dizer que sente aquilo que ninguém pode explicar em palavras?

Qual seria a resposta certa?

Mas como pode ter tanta certeza? Talvez não tenha, talvez tenha dito apenas para me deixar ainda mais confuso, para me torturar cada vez mais. E aqui estou eu de novo me torturando por não querer acreditar que tudo é tão simples, que tudo é tão bonito.

A vida não é bonita, esta vida não é. Bom, talvez seja...

2007/08/08

"Certa noite, sonhei que marchava com a falange. Estávamos avançando por uma planície, de encontro ao inimigo. O terror gelava meu coração. Meus camaradas guerreiros caminhavam com passadas largas à minha volta, na frente, atrás, por todos os lados. Eram eu. O meu eu velho, o meu eu jovem. Fiquei ainda mais aterrorizado, como se fosse me fragmentar em pedacinhos. Então, todos começaram a cantar. Todos os meus “eus”. Enquanto suas vozes se elevavam em uníssono, todo o medo abandonou meu coração. Despertei com o coração tranqüilo e tive certeza que era um sonho diretamente de Deus.

"Entendi, então, que era isso que tornava a falange grandiosa. A cola invisível que a mantinha unida. Percebi que todos os exercícios e a disciplina que vocês, espartanos, gostam de martelar na cabeça dos outros não significam, na realidade, inculcar perícia ou arte, mas somente produzir esta cola."

Portões de fogo, Steven Pressfield
Livro VII - Cap. 32

2007/07/08

Canção de despedida

Ouça, meu amor... É a nossa canção.

É a nossa canção de despedida...

Vamos, meu amor, não faça do fim algo tão difícil.

A dor só existe quando se quer que exista; somos mais que isso.

Você não percebe que o fim pode ser algo ainda mais bonito que o princípio?

O mundo vai continuar girando. As flores desabrocharão na primavera. Os pássaros voarão livres. As estrelas estarão no céu; e a lua... ah! a lua... sempre será a mesma.

Você não ouve? É a nossa canção de despedida.

Em oito, Vênus retornará... e quem sabe com ela, o amor.

Ouça, meu amor, que de tudo ficará o quanto sei que não é real o seu fim...